terça-feira, 14 de junho de 2016

A Festa de Babette e um Coq Au Vin de última hora

Assisti ao filme "A Festa de Babette" pela primeira vez quando ainda era criança. Não pude, por me faltar a maturidade necessária para tal à época, compreender integralmente a mensagem daquela que, a meu ver, é uma das melhores obras cinematográficas do século XX. Numa madrugada dessas, revi pela terceira vez o filme -- uma belíssima produção dinamarquesa baseada num conto da escritora Karen Blixen, com direção de Gabriel Axel -- e concluí que cozinhar é a arte de fazer sorrir.

A Festa de Babette: um deleite para os olhos e para a alma.

A história se passa na Dinamarca, na segunda metade do século XIX. Numa noite de tempestade, em 1871, Babette chega a um vilarejo próximo ao mar. Ela, que fugia da França durante a repressão à Comuna de Paris, acaba sendo empregada como faxineira e cozinheira na casa de duas senhoras solteironas, Martine e Phillipa, filhas de um rigoroso ministro religioso. Ao longo de doze anos, Babette interfere na rotina do povoado ao acrescentar mais sabor à sopa distribuída pelas irmãs religiosas aos velhos da comunidade. Certo dia, porém, uma carta vinda da França lhe traz a informação de que havia ganhado uma fortuna na loteria. Em vez de se valer do dinheiro para voltar à sua terra natal, porém, Babette pede permissão às irmãs para preparar um jantar em comemoração ao centésimo aniversário do ministro -- um legítimo jantar francês. 

O que ocorre daí em diante é um espetáculo para os olhos e para a alma. Ver a transformação que um jantar feito com esmero pode causar no estado de espírito das pessoas é, no mínimo, inspirador. Me peguei sorrindo sozinha várias vezes durante o filme, pensando que um prato bem feito tem mesmo poderes mágicos, mesmo que os ingredientes utilizados não sejam considerados 'nobres'. Assim, todo cozinheiro e toda cozinheira tem um quê de alquimista, de feiticeiro...

As receitas executadas por Babette são coisa de outro mundo, ainda mais com a belíssima fotografia do filme. Impossível não salivar, viu? Quem quiser conferir -- e quem sabe tentar -- algumas receitas (em inglês), pode fazê-lo aqui.

Bom, não passo de uma pessoa que gosta de cozinhar e, às vezes, de se aventurar em receitas um pouco mais elaboradas que o nosso arroz-feijão de todo dia. Ainda com "A Festa de Babette" na cabeça, me veio à mente a lembrança de um tal Coq Au Vin, prato festejado entre os entusiastas da culinária francesa. Sempre pensei se tratar de algo muito sofisticado e fino, mas qual não foi a minha surpresa ao descobrir que Coq Au Vin é um prato quase rústico, de tão simples!

Meu primeiro Coq Au Vin :)

A internet disponibiliza um sem número de receitas e há algumas diferenças entre elas, sempre. Escolhi uma, que me pareceu bastante simples, e fiz algumas adaptações baseada em receitas um pouquinho mais elaboradas. O resultado? Bom, não sobrou muita coisa pra contar história! :)
Para acompanhar, servi batatinhas ao forno com azeite e ervas finas, e aproveitei pra colocar no meio delas alguns dentes de alho; depois de assados eles ficam simplesmente deliciosos!

Segue a receita:

Coq Au Vin

Ingredientes

1kg de sobrecoxa sem pele
1 cenoura grande
1 cebola média
3 ou 4 dentes de alho
1 alho poró fatiado (só a parte branca)
750ml de vinho tinto seco
100g de bacon 
200g de champingnons 
200ml de água
1 colher (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de azeite
Conhaque
Pimenta do reino
Cebolinha
Sal
Alecrim ou Tomilho
Louro

Modo de fazer:

Bote o frango para marinar por 12 horas na geladeira, numa tigela onde se tenham colocado o alho bem picado, a cebola (as fatias podem até ser um pouco mais grossas), o alho poró, o sal, o alecrim/tomilho, a pimenta, o louro (uma folhinha basta) e o vinho. 

Separe o frango, os vegetais e o vinho da marinada -- para isto, utilize uma peneira.

Em uma panela bem quente, adicione a manteiga, o azeite e o bacon cortado em cubinhos. Frite e reserve. 

Frite os pedaços de frango nesta gordura, aos poucos, até que dourem. Neste momento, junte uma dose de conhaque (usei um pouco mais porque aprecio o sabor) e flambe. Como a panela é alta, o correto é pôr parte da bebida na panela e outra parte numa colher de metal -- então você deve 'acender' cuidadosamente o conhaque que está na colher na chama do fogão, despejando o conteúdo dentro da panela. Reserve.

Adicione os vegetais da marinada e refogue um pouco. Polvilhe a farinha de trigo e misture bem. Deixe refogar por mais alguns minutos. 

Em seguida, adicione à panela o vinho utilizado na marinada e deixe esquentando. Quando começar a levantar fervura, junte o frango e adicione a água. Deixe cozinhar em fogo baixo, com a panela semi-tampada, por cerca de 50 minutos. 

Passado este tempo, junte o bacon frito, os champignons e deixe cozinhar por mais 15-20 minutos sem a tampa, até que o molho reduza e engrosse um pouco.  

Polvilhe a cebolinha cortada por cima e sirva acompanhado por batatas, purê de batatas ou salada verde.

Observações:

Sim, o frango fica ROXO quando sai da geladeira. A aparência pode assustar um pouco, mas não se preocupe, pois a carne permanece clarinha por dentro, mesmo depois de cozida.

Qualquer vinho tinto seco serve, mas é importante que seco -- não suave, não demi-sec.

Bom apetite! :)