domingo, 24 de julho de 2016

Tropeiros, queijo e quiche!

Conheço poucas pessoas que não apreciam queijo. Eu, pelo menos, adoro! Mas não qualquer queijo. Tem que ser especial, tipo aquele queijinho minas super fresco que se compra na feira livre ou o queijo parmesão que vem dentro de um cesto, carregado por uma mulinha que atravessa a Serra da Mantiqueira. 

Pois é. Este queijo, que chamamos aqui carinhosamente de "queijo da mulinha", é o meu preferido. Não só por causa do sabor, que é maravilhoso, mas também por conta de tudo o que há por trás da produção dessa delícia!


Quem visita a região de Visconde de Mauá, Maringá e Maromba, no estado do Rio de Janeiro, eventualmente vai se deparar com os tropeiros da Serra da Mantiqueira e suas simpáticas mulinhas. São eles os responsáveis por fazer chegar às pequenas vendas e pousadas da região, e também aos moradores, o queijo artesanal produzido nas terras altas da Serra (cerca de mil metros de altitude, veja bem!), nas divisas entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. É importante frisar que a receita do queijo da Mantiqueira é a mesma desde meados do século XIX, o que torna tudo ainda mais especial.

Sempre trago de lá pelo menos 1kg de queijo e olha, não vou mentir: dura pouco. Quando está quase no finzinho logo tratamos de providenciar mais 1kg. Ficar sem nosso queijinho? De jeito nenhum!

Quem vive por aquelas bandas sabe que os moradores de lá consomem este parmesão derretido na chapa do fogão à lenha ou no popular "arroz com queijo": quando o arroz está quase pronto, colocam-se fatias de queijo dentro da panela e aí é só aproveitar!

Eu poderia escrever um monte sobre o parmesão da Mantiqueira, mas prefiro deixar os links de uma bela matéria, feita pelo jornalista Nelson Araújo e exibida no programa Globo Rural, sobre os tropeiros do parmesão.

Parte I


                                          
                                                                          Parte II

                                                                         Parte III

                                                                         Parte IV

Aqui em casa, o queijo da mulinha vira recheio de queijo quente, pão de queijo, petisco. É comido puro também, acompanhado por um café bem quente e adoçado com açúcar mascavo. E, claro, é a estrela das massas: vai bem com macarrão, gnocchi, lasanha e até sobre caldos e sopas.
Da última vez, entretanto, o parmesão da Mantiqueira virou recheio de uma quiche deliciosa, cuja receita passo logo abaixo:

Quiche de Cebola e Alho Poró com Alecrim e Parmesão






Para esta receita usei dois tipos de cebola: a branca e a roxa, só pra ficar mais bonito e colorido. Você pode usar só um tipo de cebola, se quiser.

Para a massa:

2 e 1/2 xícaras de farinha de trigo
100g de manteiga
1/2 colher (chá) de sal
1 ovo
2 colheres (sopa) de água fria

Numa tigela, adicione todos os ingredientes e misture com as pontas dos dedos até obter uma farofa. Comece a sovar a massa até que fique homogênea. Modele uma bola com a massa e forre o fundo e as laterais de uma fôrma de fundo removível (20 cm de diâmetro). Para abri-la, pode-se usar as mãos em vez do rolo. 
Leve a fôrma forrada com a massa à geladeira e comece a preparar o recheio.

Para o recheio:
1 alho poró grande 
1 cebola grande (roxa ou branca, ou metade de cada uma)
1 colher (sopa) de alecrim fresco picado
1 colher (sopa) de azeite
100g de queijo parmesão picado em cubos
4 ovos
400g de creme de leite
Sal e noz-moscada a gosto

Corte o alho poró em rodelas finas e a cebola em meia-lua. Refogue com o azeite, em fogo médio, por cerca de 5 minutos, mexendo sempre. Junte o alecrim e refogue por mais 3 minutos. Tempere com sal, desligue o fogo e reserve.

Preaqueça o forno a 180°C. 

Numa tigela, junte o creme de leite, os ovos e misture bem com um garfo ou um fouet, até ficar homogêneo. Tempere com o sal e a noz-moscada.

Retire a fôrma da geladeira. Distribua o alho poró e as cebolas na fôrma, de forma que todo o fundo fique coberto. Coloque os cubos de queijo. Em seguida, despeje cuidadosamente a mistura de ovos e creme de leite. 

Leve ao forno pré-aquecido e deixe assar por aproximadamente 30 minutos ou até que a superfície esteja dourada. Sirva.

Intenso e delicioso!
Inté! :)




terça-feira, 19 de julho de 2016

Chocolate inalável? Prefiro mousse!



Apesar de antiga, essa notícia me deixou Barbie na caixa!
Que tem muita gente viciada em chocolate não é novidade pra ninguém. Eu mesma já tive minha fase chocólatra e que atire a primeira pedra quem nunca se lambuzou com essa delícia dos deuses! Mas este vício, como qualquer outro, também tem suas consequências -- ou seja, paga-se um preço pelo prazer, e na maioria das vezes o pagamento é  ver o ponteiro da balança subir com pressão. 


'Inalar' chocolate? Errr...não, obrigada!
Pensando nisso, um professor da Universidade de Harvard, chamado David Edwards, criou em 2009 um 'chocolate inalável' que chegou ao mercado em quatro sabores (chocolate, chocolate com menta, chocolate com framboesa e chocolate com manga). A ideia é até bem simples: um inalador com uma latinha acoplada e, dentro dela, o intenso sabor do chocolate com baixíssimas calorias.

Na época, o criador do "Le Whif" justificou a invenção dizendo que, a seu ver, os seres humanos, ao longo dos séculos, têm comido cada vez menos e em intervalos cada vez menores. "Me parece que o ato de comer está ficando mais e mais próximo da respiração. Então, com uma mistura de arte gastronômica e ciência aerosol, estamos ajudando os hábitos alimentares a chegarem à sua conclusão lógica", chegou a escrever em seu site. 

Em abril de 2009, o "Le Whif" chegou a ser comercializado em Paris, na França, por 3 euros (cerca de R$ 9, naqueles tempos). No site, a cartela com três inaladores saía a um preço mais em conta: 1,80 euro.


Joguei no Google para saber se a ideia 'pegou'. Ao que tudo indica, não. Óbvio. Afinal, quem é que vai abrir mão de saborear um delicioso chocolate para 'aspirar' o aroma do doce? O site da empresa responsável pelo produto (Le Laboratoire , do professor, cientista e escritor David Edwards) continua no ar, mas não sei se o chocolate inalável ainda é comercializado. 

Prefiro comer a inalar comida (que frase estranha!), e aposto que você também, não é?

Então dá uma olhadinha nessa...

E essa xícara antiguinha que peguei emprestada da cristaleira da mamãe? <3 

...Mousse de Chocolate 


Pra 'variar' um pouco (sqn): simples, barata, fácil e rápida. E leve. Dá vontade de comer pra sempre!
Há outras receitas mais elaboradas no meu caderninho, mas esta é a minha preferida justamente por ser prática. 

200g de chocolate meio amargo
200g de creme de leite
3 claras em neve (picos firmes)
1 pitada de sal
1/2 colher (chá) de essência de baunilha

Pique o chocolate e junte num bowl com o creme de leite, o sal e a essência de baunilha. Leve para derreter em banho-maria, sem deixar o fundo do bowl encostar na água. Misture bem e deixe esfriar.
Bata as claras em neve até que tenham picos firmes. Despeje no bowl onde está o chocolate e envolva delicadamente, até que a mistura fique homogênea. Leve à geladeira por, no mínimo, 2 horas.

Diz aí: não é muito melhor que 'cheirar' chocolate? Haha

Inté! :)

sábado, 16 de julho de 2016

Lembranças, Cora Coralina e Milho Verde

Uma das lembranças que trago de menina é a da minha avó materna lendo para mim, pela enésima vez, a história do Prato Azul Pombinho, do livro 'Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais', de Cora Coralina.

Eu chorava toda vez.
Mas pedia de novo. E de novo. E de novo. 
E pedia pra que me lesse, também, o poema "Antiguidades", que falava sobre um bolo "econômico, como tudo, antigamente. Pesado, grosso, pastoso. Por sinal que muito ruim". Ficava imaginando que o bolo deveria ser muito bom, isso sim, pra causar tanta gastura e ansiedade numa criança como foi a pequena Cora e como era eu, também, a ouvir suas lembranças em forma de poesia.

E assim minha avó me leu o livro inteiro, várias vezes.

Depois de adulta, confesso, poucas vezes o li.

Mas continuei a gostar de Cora Coralina, pseudônimo da goiana Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985), poetisa, contista e considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras. Cozinheira de mão cheia e doceira de profissão, Cora teve seu primeiro livro publicado em 1965, quando tinha quase 76 anos de idade.

Como viveu a maior parte de sua vida longe dos centros urbanos, produziu uma obra poética rica -- ainda que distante dos modismos literários --, retratando o cotidiano do interior brasileiro, principalmente o dos becos e ruas históricas de sua querida Goiás.

 Cora Coralina <3

Pincei, para a receita de hoje, um poema especial da Cora.
Chama-se Poema do Milho. Clique aqui para ler.
Sem muitas palavras minhas, pois muitas (e infinitamente melhores) são as dela, sigamos com a receita de hoje!

Uma fatia deliciosa!
A toalha de mesa que pertenceu à minha avó :)

Bolo Pamonha

Para esta receita, dividi a massa em duas assadeiras. Não quis um bolo alto, mas dois bolos baixinhos. Se quiser, pode colocar numa assadeira só.

2 latas de milho verde sem a água
200 ml de leite de coco
1 lata de leite condensado
1 xícara de leite
1 colher (sopa) de manteiga
3 ovos
100g de coco ralado
1/2 xícara de fubá
1 colher (sopa) de fermento em pó

Bata todos os ingredientes no liquidificador, começando pelo milho e líquidos.
Transfira para uma assadeira untada e polvilhada com fubá, e asse em forno pré-aquecido a 180°C até passar no teste do palito.
Ao contrário de outros bolos, este leva um pouco mais de tempo para ficar pronto. No meu forno levou cerca de 60 - 65 minutos. Este é um bolo 'pesado', mas úmido e muito saboroso!

Inté! :)



Se as crianças cozinhassem + Chop Suey

Depois do Food Network, meu canal preferido na Sky é o Sundance Channel. Quer dizer que sou hipster-cult-diferentona? Ui, longe disso! É que às vezes é interessante assistir a filmes cujas narrativas diferem um pouco da velha fórmula róliudiana do 'felizes para sempre'. Há diretores e roteiristas maravilhosos fora do mainstream e penso que vale muito a pena conhecer o trabalho desses profissionais.

O diretor Tze Chun.
Para quem não sabe, o Sundance Channel foi fundado pelo ator Robert Redford e busca oferecer ao público uma seleção bastante diversificada de filmes independentes premiados, além de documentários e produções originais. Tem ligação direta com o Sundance Film Festival, o maior evento de cinema independente dos EUA, que dá visibilidade a novos trabalhos de cineastas do mundo inteiro. Muitos dos filmes do festival são vistos exclusivamente, e pela primeira vez, no Sundance Channel -- isso explica o motivo de muitos deles não serem tããão conhecidos do grande público. 

Um dos que o canal exibiu recentemente foi o ótimo "Children of Invention" (2009), filme de estreia do jovem diretor norte-americano Tze Chun. Apresentado em mais de 50 festivais de cinema, "Crianças Engenhosas" (título em pt-br) abocanhou nada menos que 17 prêmios. 


O filme conta a história de duas crianças que vivem com a mãe, a imigrante Elaine Cheng (interpretada pela atriz Cindy Cheung), no subúrbio de Boston. Lidando com as dificuldades de ser imigrante e não ter dinheiro, Elaine acaba se envolvendo em um esquema de pirâmide, atraída pela possibilidade de conseguir dinheiro rápido. Mas as coisas se complicam quando Elaine é presa pela Polícia e seus dois filhos, que vivem num apartamento-modelo, acabam entregues à própria sorte.

A história aborda com delicadeza a relação desses filhos com a mãe, que, desesperada para conseguir dinheiro e oferecer a eles uma vida mais confortável, acaba sacrificando o bem-estar das crianças. Fazer invenções -- como um talher 'automático' para comer macarrão, por exemplo -- é a saída que elas encontram para lidar com o tédio.

E o que tem a ver com a receita de hoje?

Bom, em uma parte do filme, as crianças precisam comer e acabam recorrendo ao popular cup noodles de microondas -- um miojo metido a besta, com altíssimos teores de sódio, carboidrato e gordura saturada. Deu um baita nervoso porque me lembrou minha época de faculdade; morando em outra cidade, sozinha, muitas vezes recorri ao miojo. Recorri tanto que atualmente só o cheiro me dá arrelia!

Fiquei pensando que toda criança deveria aprender a cozinhar. Obviamente que as receitas devem ser de preparação simples e segura, adequada à idade dos pequenos. Quer uma coisa simples, fácil, saudável e barata que uma criança de 11 ou 12 anos -- idade aproximada do garotinho do filme -- pode fazer tranquilamente?

Chop Suey Super Simples!


Não tem mistério, não. 
Chop Suey, prato de origem chinesa, nada mais é que "pedaços misturados" -- esta é a tradução literal. Consiste de carnes (frango, porco, bife ou camarão) cozidas rapidamente com legumes e envoltas em um molho engrossado com amido. Só isso.

Tradicionalmente, os legumes utilizados na preparação do Chop Suey são o repolho, o aipo e o feijão-da-china (conhecido no Brasil como feijão rajado). Por aqui, é comum vermos outros tipos de vegetais acrescentados ao prato, como couve-flor, brócolis, pimentões, acelga (aprecio um bocado!) e cenouras. Na verdade, tanto faz: havendo legumes, carne e molho, tá tudo certo! 

Para este prato, peguei o que eu tinha na geladeira: bife de alcatra, cenouras, vagens, cebolas e tomate.

1/2 kg de alcatra cortada em pedaços pequenos
2 dentes de alho picados
2 cm de gengibre fresco ralado
1/2 xícara de shoyu 
3 colheres (sopa) de água
1/2 pimenta dedo de moça picada bem fininha (opcional. Se for usar, tire as sementes)
2 cebolas médias cortadas em pétalas
2 cenouras grandes em rodelas
1 tomate grande picado
20 vagens picadas
1 colher (sopa) de amido de milho
Sal
Óleo 

Junte a carne com o alho, a pimenta, o gengibre e o shoyu. Reserve.
Numa wok (se não tiver, ok, use uma frigideira grande que tá tudo certo), coloque o óleo e frite a carne aos poucos. Na vasilha onde estiver o shoyu com o alho, o gengibre e a pimenta, junte o amido de milho e misture. Reserve.
Quando a carne estiver frita, tire da frigideira e coloque em um prato. Reserve.
Na frigideira, refogue os demais legumes até que fiquem al dente (o ideal é que sejam refogados separadamente, mas a ideia aqui é tornar a receita ainda mais simples e rápida). Corrija o sal. Reserve em um prato separado.
Na mesma frigideira, junte a mistura de shoyu e amido, a água, e mexa até engrossar um pouco. Corrija o sal.
Junte os legumes, a carne, e envolva no molho. 
Cubra com cebolinha picada e sirva com arroz branco.

Inté! :)







quarta-feira, 29 de junho de 2016

Bolo de Capim-Limão e Moda de Viola

Relacionar um assunto à receita que posto aqui não é uma tarefa assim tão simples. Eu poderia colocar aqui uma dúzia de palavras como introdução e partir logo para as fotos e a receita, mas não é assim que eu espero que funcione. Comida, tanto quanto as artes, tem que despertar na gente um sentimento, sabe? 

Recentemente ganhei um maço de folhas de capim-cidreira, também conhecido como capim-limão ou capim-santo. Sinceramente, abri um baita sorriso quando peguei o presente, porque pra mim não tem coisa melhor do que ganhar coisas assim! 

Poderia ter feito suco, chá, banho (quem não gosta de um banho cheiroso e que recarrega as energias, né?), mas preferi fazer bolo -- cuja receita, aliás, me foi passada por um amigo anos atrás. Fiz uma vez, amei de paixão, mas nunca mais encontrei capim-cidreira fresco em quantidade suficiente para essa delícia verdinha!


Lavei as folhas, piquei direitinho e, enquanto preparava a massa, pensava que relação teria o capim-cidreira com a poesia, por exemplo. Bom, não sei quanto a vocês, mas certos cheiros, texturas e sabores despertam em mim uma nostalgia confortável e transportam-me a lugares mágicos -- como no alto da montanha, onde gostaria de passar a maior parte do tempo. 

Achei que esse bolo tem o jeito e a cara de uma tarde na roça, com uma xícara de café bem fresquinho e cheiroso. Foi lá que me vi ao comer a primeira fatia.

E uma coisa que me deixa feliz quando estou lá, no meio da natureza, é ouvir boa música. A bola da vez na minha lista é o músico e compositor mineiro Zé Helder (para saber mais sobre ele, clique aqui), um mestre da viola e expoente do que há de melhor na música caipira atual.

Zé Helder manda benzaço na viola! Foto: Túlio Noronha
Se você acha que viola caipira é 'coisa de velho', tenho duas coisas a dizer: a primeira, é que 'coisa de velho' não é necessariamente ruim, pelo contrário. E a segunda é que o instrumento é versátil e, em mãos habilidosas, produz maravilhas como o álbum "Moda de Rock - Viola Extrema". Neste trabalho em parceria com o músico Ricardo Vignini, Zé Helder revisita clássicos do rock'n'roll como "Smells Like Teen Spirit", do Nirvana, "Mr. Crowley, de Ozzy Ousborne e "Kashmir", do Led Zeppelin, dentre outros. Um prato cheio pra quem gosta de boa música, com certeza!

Mas, como boa entusiasta da roça que sou, fico hoje com a música "Com Você", do álbum "Assopra o Borralho", terceiro trabalho solo do artista (tem no Spotify!). Pra acompanhar, café e bolo de capim-cidreira!





Vamos à receita!

Bolo de Capim-Cidreira


Ingredientes:

15 folhas de capim-cidreira lavadas e cortadas
Raspas e suco de 1 limão grande
1 xícara de leite
1/2 xícara de óleo
3 ovos
2 xícaras de farinha de trigo
1 e 1/2 xícara de açúcar
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 pitada de sal

Bata no liquidificador o capim-cidreira e o leite. Coe e retorne para o copo do liquidificador. Junte os ovos e o óleo, bata apenas para misturar os ingredientes. Reserve.

Numa tigela, coe a farinha de trigo, o açúcar, o sal e o fermento. Misture bem. Junte as raspas de limão, a mistura de capim-cidreira e misture bem. Ponha em forma untada e leve ao forno, preaquecido a 220°C, por 30 minutos.

Para o glacê: Fiz uma misturinha de 1 xícara de açúcar de confeiteiro e suco de 1/2 limão. É só despejar por cima e esperar uns minutinhos até secar. Decore com raspas de limão ou laranja.

Às vezes gosto de assar bolos em formas menores, para presentear amigos :)

 Inté! :)

sábado, 25 de junho de 2016

O destempero de Erick Jacquin e uma receita de chucrute caseiro

Quem assiste ao MasterChef Brasil sabe que Erick Jacquin está longe, mas muito longe mesmo, de ser um docinho de coco. Os que convivem com o chef francês, que em maio deste ano ganhou um reality show exibido pela Fox Life, são assertivos ao afirmar que Jacquin é um tipo destemperado e muitas vezes insuportável -- embora tenha também suas virtudes, como qualquer ser humano. 

"O Mundo de Jacquin", de acordo com a sinopse divulgada pela Fox Life, convida o público a mergulhar no "universo surpreendente" do chef e "conhecer as várias facetas de sua vida". O que se vê, porém, não é muito agradável. A despeito do jeito aparentemente bonachão de Jacquin, são vários os momentos pra lá de constrangedores em que o chef abusa da arrogância e da grosseria. Se na edição brasileira do MasterChef ele peca pela falta de tato e empatia, no reality não é diferente; familiares, amigos, colegas de trabalho e equipe de filmagem estão constantemente à mercê dos ataques de Erick, que não se envergonha de dizer que gosta de ver as pessoas (seus funcionários, em especial) com "medo" dele, já que encara isso como "sinal de respeito". 

Mas, até prova em contrário, é disso que o público parece gostar. Tanto é que, apesar das muitas críticas sobre a grosseria dos jurados -- com destaque para Jacquin --, MasterChef Brasil bateu recorde de audiência e o francês, conhecido por acumular dívidas e processos trabalhistas, é tido como o "chef mais querido do Brasil".  Nesta batida, "O Mundo de Jacquin", exibido às quartas-feiras, às 19 horas, deve fazer sucesso e, se bobear, emplacar uma segunda temporada. 

Má educação parece mesmo ser o 'tompero' preferido da galera.


Chucrute Caseiro

Chucrute (Sauerkraut, em alemão) é um prato típico da Alemanha, embora seja consumido no mundo inteiro. Desperta paixões ou repulsas: é o tipo de prato que ou você ama, ou você odeia -- mais ou menos como acontece com o chef Jacquin! RISOS.

Motivo: é repolho. Mais: repolho fermentado. Ou seja, é repolho que passa por um processo de fermentação lática promovido por bactérias. Não tem um cheiro muito agradável e o sabor é intenso, um tanto quanto 'gaseificado'. Serve-se com vários tipos de salsicha e linguiça, acompanhando pratos feitos com carne suína, mas há quem goste de comer puro. Ou no pão (puro ou com linguiça). Quem gosta, gosta. Quem não gosta, odeia muito.

Fato é que chucrute, assim como muitos fermentados naturais, faz bem à saúde. Primeiro, porque o repolho é rico em vitamina C e K, e o chucrute conserva pelo menos 50% dessas vitaminas. Segundo porque, se consumido com frequência: ajuda a reduzir os níveis de colesterol e triglicérides, auxilia a digestão, aumenta os níveis dos antioxidantes dismutase e glutationa e ajuda a proteger o coração e os vasos sanguíneos. É claro que estamos falando de um chucrute natural, sem conservantes e produtos químicos. 

Há alguns meses comi uma conserva de repolho roxo e maçãs que me deixou de queixo caído. Mas, vejam bem, era uma conserva, não uma fermentação. Significa que levava açúcar, vinagre, sal e água. Certo dia, no supermercado, vi que os repolhos estavam bonitos e resolvi comprar dois: um roxo e um branco. Encafifei que queria chucrute, porque me parecia mais desafiador que uma conserva e fui atrás da receita. 

Descobri que chucrute pode ser feito com os dois tipos de repolho e mais: que se pode acrescentar maçãs à receita, assim como temperos como mostarda em grãos, funcho, cravo, sementes de coentro, cominho etc. Uma amiga contou que na Lituânia usa-se kümmel e que o tempero deixa o chucrute mais adocicado. 



Para fazer a receita básica você vai precisar de:

Repolho
Sal
Tigela de vidro ou cerâmica
Filme plástico
Prato
Um pano para envolver a tigela
Paciência, pois o processo de fermentação leva de 3 a 6 semanas.

1. Não é para lavar o repolho, pois em suas folhas estão as bactérias necessárias para o processo de fermentação. Tire as folhas externas que estiverem machucadas e pronto.

2. Tente fatiar o mais finamente que conseguir. Quanto mais fino o repolho ficar, melhor.

Não piquei finamente dessa vez. Nadica, como podem perceber.


3. Coloque o repolho fatiado na tigela e polvilhe sal (mais ou menos uma colher de sopa para cada 750g de repolho, mas confesso que fui no olhômetro mesmo).

4. Misture bastante o sal com o repolho e deixe murchar por cerca de uma hora. O repolho vai soltar líquido e é essa a ideia.

5. Com as mãos, esprema o repolho. Compacte bem, até que o líquido cubra as folhas. Se não cobrir, dissolva uma colher (sopa) de sal em 1 xícara de água e adicione às fatias de repolho. 

6. Empurre para baixo tanto quanto conseguir. Quanto mais as folhas estiverem compactadas, melhor. Cubra-as com filme plástico e, por cima, coloque um prato para fazer pressão. Lembre-se que o repolho deve estar sempre abaixo do líquido. O prato deve ser quase do tamanho do pote. A ideia é que entre a menor quantidade de ar possível dentro da vasilha. Se quiser, coloque um peso (pode ser uma lata, desde que esteja limpa) sobre o prato. Cubra o prato com mais filme plástico. 

Após três semanas de fermentação.


7. Cubra a vasilha com um pano limpo e deixe fermentando em local fresco. Quanto mais baixa a temperatura, melhor o sabor. O ideal é que esteja sempre abaixo de 19°C. 

5. Tenha paciência e espere de 3 a 6 semanas. Se surgir um mofo clarinho nas bordas do recipiente, não se preocupe: basta retirar com uma colher. Mas se o mofo for escuro, jogue tudo fora. O cheiro do chucrute deve ser forte, mas não 'nojento' (quem gosta de nabo e queijo gorgonzola sabe bem como é).  O gosto deve ser levemente 'gaseificado'.

6. Coloque em potes de vidro com tampa e deixe na geladeira. O chucrute dura bastante tempo. 

Pronto para ser consumido :)


Observações:

Há receitas que pedem que o sal utilizado neste processo seja o não-iodado, mas usei o sal comum e deu super certo. Porém, poderia não ter dado, então o melhor é procurar usar sal marinho em vez do sal iodado. Arriscar pra quê, né?

Colocar temperos como sementes de coentro, mostarda, cominho etc, ajudam na digestão e conferem um sabor todo especial ao chucrute. E evita a formação de gases após o consumo. ;)

Inté!

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A Maçã e o melhor bolo dos últimos tempos na minha cozinha

Amo o cinema iraniano justamente porque os roteiros fogem daquela coisa ~róliudiana~ do "e foram felizes para sempre". Na verdade, as histórias são bem simples, contadas de forma poética e com finais realistas (às vezes, dolorosamente realistas). 

Um dos que mais gosto é "Sib" (em português, "A Maçã", de 1998), da diretora Samira Makhmalbaf.
O filme, uma mistura de ficção e documentário, conta a história de duas meninas, irmãs gêmeas (Massoumeh e Zahra), que passam onze de seus treze anos trancafiadas em casa. A mãe das meninas é cega e, por isso, o pai das duas, ao sair para trabalhar, as deixa trancadas. Elas não podem brincar no quintal, não têm contato com outras crianças e acabam criando um universo muito particular entre elas.

Os vizinhos, incomodados com a situação, fazem um abaixo-assinado para pedir providências às autoridades. O caso, então, passa a ser conhecido pelos jornais. Uma assistente social é designada para acompanhar a família e garantir que os pais obedeçam à determinação da Justiça: que as meninas tenham liberdade. No decorrer da história são mostradas situações muito delicadas, que envolvem preconceito, fanatismo, maldade, manipulação e ignorância. 

Choca um pouco saber que as meninas do filme, assim como seus pais, são reais -- eles não estão representando. Mas, por isso mesmo, emociona vê-las saindo de casa pela primeira vez, indo à rua, comendo as maçãs que compraram. Elas, que não falam direito, que andam de um jeito estranho, que não fazem ideia de como lidar com o dinheiro.
A premiada diretora Samira Makhmalbaf
filmou "A Maçã" quando tinha
apenas 17 anos de idade. 

Curiosa, fui atrás de informações para saber o que aconteceu com Massoumed e Zahra após o filme. No blog Chá de Lima da Pérsia encontrei um texto falando sobre o assunto: elas foram adotadas por outra família, foram para a escola e planejavam ir à universidade. As gêmeas devem ter cerca de 28 anos atualmente. Zahra continua morando com o pai e trabalha numa oficina de costura. Massoumeh casou-se. 

No YouTube há o filme completo, legendado. Se quiser assistir, clique aqui.

Agora, à receita! :)

Bolo Francês de Maçã

Receita de David Leibovitz

Não sou chegada a frutas, exceto se estiverem em alguma preparação culinária. Cruas, sem nada, nadica de nada...? Bem, até como, mas não posso dizer que amo. Maçãs, para mim, ficam boas cozidas: com carne de porco, com frango, no chucrute (neste caso, fermentadas), em tortas ou bolos.

O que me chamou a atenção na receita é que esta, ao contrário do que acontece em grande parte das receitas de bolo de maçã, não leva especiarias. Nada de canela, nada de gengibre, nada de cravo. No máximo, essência de baunilha. E rum, o que dá um 'plus' na coisa toda. Assim, o gosto que se tem é de maçã, pura e simplesmente.

A massa é super leve e perfumada. Tive que me controlar para não comê-la crua, pois a textura é mesmo muito gostosa! 



Os paus de canela estão aí só pra foto ficar mais enfeitadinha! :)

Vamos ao que interessa:

3/4 de xícara de farinha de trigo (110g)
3/4 col (chá) de fermento químico
1 pitada de sal
4 maçãs grandes cortadas em cubos de 3 cm
2 ovos grandes
3/4 de xícara de açúcar (150g)
1/2 col (chá) de essência de baunilha
3 col (sopa) de rum escuro ou essência
8 col (sopa) de manteiga derretida

Preaqueça o forno a 180°C.
Unte generosamente a forma com manteiga e reserve.
Descasque as maçãs, tire os miolos e corte em cubos de aproximadamente 3 centímetros (esprema por cima delas o suco de um limão, para que não escureçam). Reserve.

Num recipiente, peneire e misture a farinha, o fermento e o sal. Reserve.
Na batedeira, bata os ovos até espumarem e acrescente o açúcar aos poucos. Bata até formar um creme. Junte a metade da mistura de farinha e bata até incorporar. Faça o mesmo com metade da manteiga derretida. Repita a operação com o restante da farinha e da manteiga. 

Quando a massa estiver pronta, junte as maçãs e misture-as na massa com uma colher, delicadamente. Procure envolver todos os cubos na massa. Coloque a mistura na forma e tente espalhar as maçãs de maneira uniforme. Asse por cerca de 50 minutos ou faça o teste do palito -- se sair seco, é porque o bolo está pronto.

Fiquei pensando no que combinaria com este bolo. Chantilly? Sorvete? Concluí que ele, sozinho, se basta. Simples, perfumado, bonito e delicioso. Não precisa de mais nada! :)

Inté! 

terça-feira, 21 de junho de 2016

A Sopa de Cebola de Maria Barbarino

Quando eu era criança, a estante de livros da minha avó (que Deus a tenha em bom lugar) guardava preciosidades; além da coleção do Sítio do Picapau Amarelo e dos exemplares da revista Meu Amiguinho, havia um livro que eu adorava: "Sem Família" (Sans Famille), do francês Hector Henry Malot, um clássico da literatura infanto-juvenil do finalzinho do século XIX. 

O livro conta a história do pequeno Renato (Rémi, no original francês), que mora com sua mãe, a
humilde camponesa Maria Barbarino, no interior da França. Muito pobres, tinham apenas uma vaca,  a 'Vermelha', que lhes garantia boa parte do sustento. Um dia, porém, Jerônimo -- que trabalhava na cidade -- se acidenta. Manda um bilhete à esposa, ordenando vender a vaca para, com o dinheiro, processar seu empregador. Jerônimo perde a ação judicial, fica desempregado e precisa voltar a viver com sua família. E é aí que a vida do pobre Renato, adotado por Maria Barbarino quando era ainda um bebê, começa a se tornar um inferno. 'Alugado' por seu pai adotivo ao velho artista mambembe Vitalis, o menino começa a lidar com questões complexas, como abandono, adoção, trabalho escravo e a busca por sua família verdadeira -- tudo isso, porém, sem perder a esperança de que dias melhores virão. 

Lembro que uma das passagens que mais me deixavam indignada era a em que Jerônimo, recém-chegado da cidade, na Páscoa, obriga Maria Barbarino a usar a  manteiga que tinha conseguido juntar com as vizinhas para fazer-lhe uma Sopa de Cebolas. É que os ingredientes seriam usados para fazer bolinhos  e pães doces para o pequeno Renato -- uma das duas receitas, não fica claro qual, tinha maçãs entre os ingredientes.

Eis um trecho: 

"Num ímpeto, corri para o homem com a intenção de abraçá-lo. Ele esticou a bengala e me fez parar. Num tom de voz brusco, perguntou:

-- Quem é este menino?
-- É o Renato.
-- Mas você não me disse...
-- Eu menti... Ele não morreu...
-- Então era mentira...

Jerônimo ergueu a bengala. Encolhi-me de medo, com a impressão de que ele ia me espancar. Por que estaria tão zangado comigo? 

Suas feições abrandaram um pouco ao notar minha expressão de pavor e baixando a bengala disse:
-- Vejo que comemoram a Páscoa. Boa ideia. Estou morrendo de fome. Que há para o jantar?

Maria Barbarino explicou:

-- Ia fritar estes bolinhos...
-- Estou vendo... estou vendo... Mas um homem que andou quase dez léguas não vai satisfazer-se co bolinhos...
-- Não há mais nada. Não sabíamos que você vinha...

Era visível a irritação de Jerônimo, que de fisionomia carregada murmurou:

-- Nada para o jantar!... Nada para o jantar!...

Logo, porém, vendo a manteiga e as cebolas, ordenou:

-- Deixe os bolinhos e prepare uma sopa de cebolas.

Maria Barbarino apressou-se a obedecê-lo, enquanto Jerônimo aproximava o banco da mesa. Intimidado pela presença desagradável e truculenta do recém-chegado, eu não conseguia esboçar um só movimento. Com a cabeça pendida sobre o ombo direito, consequência da pancada que recebera ao despencar do andaime, Jerônimo acompanhava todos os gestos de minha mãe adotiva. 

Ao vê-la de novo ao fogão com a frigideira, o homem protestou:

-- Ponha aí toda a manteiga.

Ela obedeceu, sem protesto, e eu estremeci ao pensar que não haveria manteiga para os meus bolinhos! Era difícil acreditar que aquele homem grosseiro e mal encarado pudesse ser meu pai! Eu tinha uma ideia muito diferente do que fosse um pai. Imaginava-o terno, delicado, afetuoso, como uma mãe, dela apenas se destacando pela importância de suas ocupações! A voz de Jerônimo arrancou-me brutalmente de meus tristes pensamentos:

-- Menino! Mexa-se! Trate de pôr a mesa.

Corri a obedecê-lo e, quanto terminei, a sopa estava pronta. Jerônimo pôs-se a tomá-la, fuzilando-me de vez em quando com um olhar feroz. Amedrontado, eu nem pensava em comer. (...)"

Bom, por mais que eu sentisse revolta por causa da sopa de cebolas pedida pelo vilão da história, eu ficava imaginando que gosto ela teria. Assim como imaginava o gosto dos tais bolinhos, que em minha imaginação de menina seriam semelhantes -- se não em aparência, ao menos no gosto -- às tortas de maçã. Mas este é assunto pra outro post. 

O livro original, que pertencia à minha avó, desapareceu. Recentemente, porém, consegui um exemplar da mesma edição, de 1972, através da Estante Virtual. Reli a história e, novamente, fiquei pensando tanto na sopa de cebolas quanto nos bolinhos. Assim, sendo, decidi fazer esta receita inspirada no livro! :)


Sopa de Cebola Gratinada


Primeiro é importante salientar que a sopa de cebola é um prato francês bastante tradicional e, não, não tem nada de 'gourmet'. Até o século XV, as cebolas eram abundantes na Europa e, por isso, consideravas a "comida dos pobres". Embora já fosse conhecida pelos antigos gregos e romanos, a sopa de cebola francesa foi documentada em 1651 pelo cozinheiro François Pierre La Varenne (1618 - 1678), autor de Le Cuisiner François (1651). De acordo com a descrição feita pelo chef, a sopa consiste, basicamente, em fritar rodelas muito finas de cebola na manteiga, até que fiquem castanhas e reduzam o volume. Em seguida, usa-se a farinha de trigo para fazer o roux e junta-se água ou caldo. Uma vez pronta, cobre-se a sopa com fatias de pão torrado e queijo gruyère ralado e leva-se a gratinar. Quer dizer: simples e sem mistério.

Há quem use caldo de carne,conhaque, vinho branco ou cidra na receita, mas basicamente é isso aí. 

Nesta versão busquei me aproximar ao máximo da receita tradicional -- exceto pelo gruyère, que substituo aqui pelo nosso bom e velho parmesão. 


1/2 tablete de manteiga
500g de cebolas brancas em rodelas finas
Sal e pimenta-do-reino a gosto
4 col (sopa) de farinha de trigo
1 e 1/2 litro de água
Tomilho a gosto (opcional)
1 col (sopa) de conhaque
Torradas
Queijo parmesão ralado


Primeiro, corte as cebolas o mais fino que conseguir. Sim, você vai chorar muito.

Depois, ponha a manteiga para derreter na panela. Quando estiver quente, junte as cebolas picadas, misture e deixe em fogo baixo. A ideia é fazer com que caramelizem naturalmente, sem o uso de açúcar (a cebola tem açúcar o bastante para caramelizar sozinha, basta ter paciência).





Este foi o ponto em que parei de caramelizar as cebolas. Há quem deixe mais tempo, para que a cor fique mais acastanhada. 









Neste ponto, tempere com sal, tomilho e pimenta a gosto. Junte a farinha de trigo e mexa bem. Deixe cozinhar um pouco mais. Depois, derrame o conhaque e raspe o fundo da panela para soltar as cebolas que porventura estejam grudadas lá. Junte a água, tampe a panela e deixe ferver por cerca de 30-35 minutos, até que engrosse um pouco.

Preaqueça o forno a 220°C.

Coloque a sopa em tigelas individuais ou em sopeira que possa ir ao forno. Coloque as torradas por cima da sopa e, por cima delas, salpique o queijo. Leve ao forno para gratinar (no meu forno levou cerca de 20 minutos, mas se o seu tiver a função grill com certeza levará menos tempo). Sirva.

Ta-dáááá!

Espero que tenham gostado tanto da receita quanto da dica de leitura! 
Inté! :)


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Cenouras não servem só pra bolo!

Comprei umas cenouras recentemente, o que não é do meu feitio. Embora eu até goste do legume, ele não está entre os 'cinco mais' na minha lista de preferências, então acaba ficando de lado quando vou às compras. Prefiro as abóboras a elas, sempre. Mas, desta vez, cenouras. E fiquei pensando no que fazer com elas. Suco?  Não. Salada? Sem graça. Bolo? Óbvio demais.

Fiz sopa. Tá frio, ué!



Sopa de cenoura. Simples, perfumada, tão leve que pode ser consumida até no verão, geladinha.


Fiz assim:

SOPA DE CENOURA COM BATATA-DOCE AO PERFUME DE LARANJA

Ingredientes:

2 cenouras grandes
1 batata-doce média
1 cebola média
2 colheres (sopa) de óleo de coco (pode ser óleo de girassol também, mas o de coco dá um saborzinho especial)
Gengibre picado (um pedacinho de uns 2 cm)
1/2 colher (chá) de raspas de laranja
Suco de 1 laranja
750ml de água
Pimenta-do-reino
Sal a gosto
Cebolinha

Modo de fazer:

Pique as cenouras e a batata e reserve. Pique as cebolas. Numa panela, aqueça o óleo de coco e junte as cebolas. Refogue até que estejam transparentes. Junte o gengibre e as raspas de laranja. Refogue mais um pouco. Acrescente as cenouras, a batata e o suco de laranja. Tempere a gosto. Acrescente a água, tampe a panela e deixe cozinhar em fogo médio até que os legumes estejam macios. Bata-os no liquidificador até que a mistura fique homogênea. Volte à panela, corrija o sal, se for necessário. Se quiser uma sopa menos espessa, acrescente 1 xícara de água. 
Salpique cebolinha por cima e sirva.


Fuééééén... :(


Servi acompanhada por uma focaccia que ficou bem gostosinha, mas não cresceu o que devia. Por quê? Porque a bonita aqui esqueceu que focaccia também é pão e, como tal, sua massa também deve ser sovada para crescer forte e exuberante! :(
Na próxima eu acerto! :)

Inté! 


quarta-feira, 15 de junho de 2016

Netflix & uma caneca de Leite Dourado

A Netflix geralmente me deixa desgraçada da cabeça porque uma vez lá, não saio. Pois é. Perdi a conta das madrugadas que virei em claro, ansiosa em saber o que acontece no próximo episódio do seriado preferido e, sim, são vários. Atualmente estou encantada com "Chef's Table", produção original da Netflix e que traz o brasileiro Alex Atala na segunda temporada. Mas "Chef's Table" é assunto para outro post. Hoje, vou falar de "Cooked".


Baseado no livro "Cozinhar, Uma História Natural da Transformação" (Editora Intrínseca), do jornalista norte-americano Michael Pollan, o documentário busca provocar as pessoas a pensar sobre o que comem: de onde vem o que está à mesa? Composta por quatro episódios de aproximadamente 45 minutos cada, a série propõe uma reflexão sobre a indústria alimentícia e mostra a importância de botar a mão na massa, literalmente, dando valor à simplicidade e aos produtos frescos (confesso que há tempos tenho fugido tanto quanto posso dos alimentos processados e industrializados, e "Cooked" só fez confirmar que, sim, estou no caminho certo). 


Cada episódio é dedicado a um dos quatro elementos da Natureza -- água, terra, fogo e ar. No capítulo Água, por exemplo, Pollan vai à Índia mostrar como a comida processada está invadindo os lares do país, levando famílias a pedirem comida no KFC, por exemplo, quatro vezes por semana e afastando as pessoas da cozinha e de sua própria cultura, uma vez que o padrão alimentar de cada povo faz parte, também, de sua história. O jornalista, muito cirúrgico em seus apontamentos, lembra que o que nos alimenta é a Natureza, não a indústria, e que só conseguimos perceber isso quando deixamos a comida pronta de lado e voltamos à cozinha, para fazer tudo do zero. 


Um dos episódios que mais me marcou foi o dedicado ao Fogo, em que Michael Pollan vai à Austrália conhecer o churrasco aborígene, uma tradição que sobrevive a duras penas graças ao empenho de australianos nativos. A simplicidade dos aborígenes ao cozinhar encanta, é pura ancestralidade!

Cena do episódio "Fogo". O documentário "Cooked" está disponível na Netflix
Vale a pena assistir aos episódios e, quem sabe, tomar um posicionamento diante do que o jornalista nos mostra. Nos EUA e em alguns países da Europa, a rejeição à comida processada e a valorização de alimentos frescos tem se tornado uma tendência (quem não se recorda do chef britânico Jamie Oliver e de seu eterno embate com escolas que insistem em empurrar comida processada às crianças?), ao passo em que países em desenvolvimento, pelo contrário, começam a dar as costas à alimentação natural e a abraçar com entusiasmo as 'novidades' da indústria. Quer dizer, é mesmo algo a se pensar, não é? 

AGORA, UMA CANECA DE LEITE DOURADO!

Leio e pesquiso muito sobre ingredientes, pratos tradicionais, alimentação alternativa etc e tal. Numa dessas, cheguei à receita do Leite Dourado, que de uns tempos pra cá, por causa de suas propriedades medicinais, começou a ficar tão 'festejado' quanto o chá de hibisco já foi. Só que o Leite Dourado (também conhecido como Tumeric Golden Milk) não é nenhuma poção mágica -- seus efeitos são benéficos, mas para que possam ser absorvidos totalmente é preciso que haja um certo estilo de vida. Não adianta tomar, achar que vai ser a cura para todos os males do corpo e continuar se entupindo de junk food (comida calórica e de baixo valor nutritivo).

Mas, creiam-me: o Leite Dourado é uma delícia! Esquenta e ainda leva dois dos temperos que eu mais amo nessa vida: pimenta-do-reino e cúrcuma, também conhecida como açafrão-da-terra. 

Tradicional da medicina ayurvédica, a bebida é uma mistura de especiarias, leite e mel. Receitas existem aos montes; algumas levam baunilha, outras não. Há quem ferva a raiz ou o pó com o leite e há quem faça uma pasta básica de cúrcuma e pimenta, que dura cerca de 20 dias na geladeira. 

Pela praticidade de ter uma pasta à mão para dissolver no leite quente a qualquer hora, escolhi esta receita:

Pasta de Cúrcuma pronta
PASTA DE CÚRCUMA

1/4 de xícara (chá) de cúrcuma em pó
1/2 colher (chá) de pimenta preta moída
1/2 xícara (chá) de água 

Leve todos os ingredientes ao fogo médio, mexendo bem. Quando a mistura se tornar uma pasta lisa (o que não demora muito, fique atento!), desligue o fogo e deixe esfriar. Guarde num recipiente de vidro limpo e seco, e mantenha na geladeira.


Feito isso, agora sim, vamos à receita do Leite Dourado!

Leite Dourado pronto, com um pãozinho do lado porque né? XD

LEITE DOURADO

1 xícara (chá) de leite
1/2 colher (chá) de pasta de cúrcuma (eu ponho um pouco mais...)
Temperos a gosto: gengibre, cravo, canela, cominho, cardamomo etc.
Mel para adoçar
1 colher (chá) de óleo de coco (opcional, mas o óleo ajuda na redução do colesterol e reforça o sistema imunológico)

Misture todos os ingredientes numa panela, exceto o mel. Leve ao fogo mexendo sempre, para não grudar. Um pouco antes de levantar fervura, desligue o fogo. Coe para retirar algum pedacinho de pasta que não tenha se dissolvido, adoce com mel e sirva. 

Benefícios? Muitos. O melhor deles, pra mim, é que ajuda a dormir. Sabe aquela história de uma xícara de leite morno adoçado com mel antes de ir pra cama? Pois é. Mas há outros: 

* Fortalece o sistema imunológico
* Combate a fadiga
* Ajuda a controlar os níveis de colesterol no sangue
* Previne problemas cardiovasculares
* Faz bem para a digestão
* Ajuda a diminuir a pressão alta

Ah, e quem tem intolerância à lactose pode tranquilamente substituir o leite por qualquer leite vegetal que continua bom a beça! :)

Inté!

terça-feira, 14 de junho de 2016

A Festa de Babette e um Coq Au Vin de última hora

Assisti ao filme "A Festa de Babette" pela primeira vez quando ainda era criança. Não pude, por me faltar a maturidade necessária para tal à época, compreender integralmente a mensagem daquela que, a meu ver, é uma das melhores obras cinematográficas do século XX. Numa madrugada dessas, revi pela terceira vez o filme -- uma belíssima produção dinamarquesa baseada num conto da escritora Karen Blixen, com direção de Gabriel Axel -- e concluí que cozinhar é a arte de fazer sorrir.

A Festa de Babette: um deleite para os olhos e para a alma.

A história se passa na Dinamarca, na segunda metade do século XIX. Numa noite de tempestade, em 1871, Babette chega a um vilarejo próximo ao mar. Ela, que fugia da França durante a repressão à Comuna de Paris, acaba sendo empregada como faxineira e cozinheira na casa de duas senhoras solteironas, Martine e Phillipa, filhas de um rigoroso ministro religioso. Ao longo de doze anos, Babette interfere na rotina do povoado ao acrescentar mais sabor à sopa distribuída pelas irmãs religiosas aos velhos da comunidade. Certo dia, porém, uma carta vinda da França lhe traz a informação de que havia ganhado uma fortuna na loteria. Em vez de se valer do dinheiro para voltar à sua terra natal, porém, Babette pede permissão às irmãs para preparar um jantar em comemoração ao centésimo aniversário do ministro -- um legítimo jantar francês. 

O que ocorre daí em diante é um espetáculo para os olhos e para a alma. Ver a transformação que um jantar feito com esmero pode causar no estado de espírito das pessoas é, no mínimo, inspirador. Me peguei sorrindo sozinha várias vezes durante o filme, pensando que um prato bem feito tem mesmo poderes mágicos, mesmo que os ingredientes utilizados não sejam considerados 'nobres'. Assim, todo cozinheiro e toda cozinheira tem um quê de alquimista, de feiticeiro...

As receitas executadas por Babette são coisa de outro mundo, ainda mais com a belíssima fotografia do filme. Impossível não salivar, viu? Quem quiser conferir -- e quem sabe tentar -- algumas receitas (em inglês), pode fazê-lo aqui.

Bom, não passo de uma pessoa que gosta de cozinhar e, às vezes, de se aventurar em receitas um pouco mais elaboradas que o nosso arroz-feijão de todo dia. Ainda com "A Festa de Babette" na cabeça, me veio à mente a lembrança de um tal Coq Au Vin, prato festejado entre os entusiastas da culinária francesa. Sempre pensei se tratar de algo muito sofisticado e fino, mas qual não foi a minha surpresa ao descobrir que Coq Au Vin é um prato quase rústico, de tão simples!

Meu primeiro Coq Au Vin :)

A internet disponibiliza um sem número de receitas e há algumas diferenças entre elas, sempre. Escolhi uma, que me pareceu bastante simples, e fiz algumas adaptações baseada em receitas um pouquinho mais elaboradas. O resultado? Bom, não sobrou muita coisa pra contar história! :)
Para acompanhar, servi batatinhas ao forno com azeite e ervas finas, e aproveitei pra colocar no meio delas alguns dentes de alho; depois de assados eles ficam simplesmente deliciosos!

Segue a receita:

Coq Au Vin

Ingredientes

1kg de sobrecoxa sem pele
1 cenoura grande
1 cebola média
3 ou 4 dentes de alho
1 alho poró fatiado (só a parte branca)
750ml de vinho tinto seco
100g de bacon 
200g de champingnons 
200ml de água
1 colher (sopa) de manteiga
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de azeite
Conhaque
Pimenta do reino
Cebolinha
Sal
Alecrim ou Tomilho
Louro

Modo de fazer:

Bote o frango para marinar por 12 horas na geladeira, numa tigela onde se tenham colocado o alho bem picado, a cebola (as fatias podem até ser um pouco mais grossas), o alho poró, o sal, o alecrim/tomilho, a pimenta, o louro (uma folhinha basta) e o vinho. 

Separe o frango, os vegetais e o vinho da marinada -- para isto, utilize uma peneira.

Em uma panela bem quente, adicione a manteiga, o azeite e o bacon cortado em cubinhos. Frite e reserve. 

Frite os pedaços de frango nesta gordura, aos poucos, até que dourem. Neste momento, junte uma dose de conhaque (usei um pouco mais porque aprecio o sabor) e flambe. Como a panela é alta, o correto é pôr parte da bebida na panela e outra parte numa colher de metal -- então você deve 'acender' cuidadosamente o conhaque que está na colher na chama do fogão, despejando o conteúdo dentro da panela. Reserve.

Adicione os vegetais da marinada e refogue um pouco. Polvilhe a farinha de trigo e misture bem. Deixe refogar por mais alguns minutos. 

Em seguida, adicione à panela o vinho utilizado na marinada e deixe esquentando. Quando começar a levantar fervura, junte o frango e adicione a água. Deixe cozinhar em fogo baixo, com a panela semi-tampada, por cerca de 50 minutos. 

Passado este tempo, junte o bacon frito, os champignons e deixe cozinhar por mais 15-20 minutos sem a tampa, até que o molho reduza e engrosse um pouco.  

Polvilhe a cebolinha cortada por cima e sirva acompanhado por batatas, purê de batatas ou salada verde.

Observações:

Sim, o frango fica ROXO quando sai da geladeira. A aparência pode assustar um pouco, mas não se preocupe, pois a carne permanece clarinha por dentro, mesmo depois de cozida.

Qualquer vinho tinto seco serve, mas é importante que seco -- não suave, não demi-sec.

Bom apetite! :)